Manuel: células estaminais há dois anos, mas a festa é todos os dias

27/04/2009
No parque infantil da Solum, em Coimbra, Manuel – que nasceu com uma imunodeficiência severa – mergulha as mãos na areia grossa, trepa pelo baloiço, desce pelo escorrega e aventurasse a caminhar sobre uma rede de malha larga depois de pedir: “Mãe, ajuda!” “Isto sim – é o que não quero esquecer, o que festejo todos os dias”, diz Isabel Araújo, de 38 anos. Sorri. Está a explicar que hoje não vai assinalar o segundo aniversário do transplante de células estaminais que permitiu que Manuel hoje viva como uma criança normal. “A esses dias, se pudesse, esquecia-os.”



Manuel tem três anos e dois meses. Mas o primeiro passou-o quase todo internado e em isolamento. Por isso, é mais ou menos como se tivesse nascido há dois, depois de receber as células estaminais do cordão umbilical do irmão mais velho, que os pais, sem nunca pensarem que isso poderia salvar um dos filhos, tinham decidido preservar, num banco privado. “Agora é engraçado pensar nisso. Foi em 2003, no ano em que apareceu em Portugal a primeira empresa a fazer preservação de células estaminais. As células teriam de ser guardadas na Bélgica; não tínhamos razões para estar demasiado confiantes na correcta preservação; não sabíamos qual, ao certo, seria o tempo de vida das células; não eram tão conhecidas as vantagens deste procedimento; para que a recolha fosse feita tínhamos de trocar de médico e de maternidade. E a verdade é que, sem qualquer objectivo especial, fomos tomando uma decisão após a outra até à que salvou o Manuel”, conclui Isabel, farmacêutica.
Não faz mais considerações: “Aconteceu.” Diz que não pensa muito nisso. Depois do Frederico Xavier, de cinco anos, e do Frederico Manuel, que agora corre no parque, entrou na família um terceiro Frederico, há um ano. E o tempo que lhe sobra diz, é pouco, seja para pensar seja para fazer outra coisa que não acompanhar os filhos. “Mas uma coisa fiz”, ressalva. Tornou-se dadora de medula: “O tempo que passei em hospitais mostrou-me que dando muito pouco de nós podemos estar a salvar a vida de outra pessoa.”

Fonte: Público – 19 Fevereiro 2009

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