Investigadores portugueses identificaram um mecanismo viral associado ao desenvolvimento de tumores malignos resultantes da proliferação desordenada de linfócitos, chamados linfomas, num estudo a ser publicado online pela revista EMBO, da Organização Europeia de Biologia Molecular (EMBO). Investigadores portugueses publicam este mês na prestigiada revista The EMBO Jounal um estudo onde identificam um mecanismo molecular chave para os vírus herpes persistirem no hospedeiro infectado. O vírus herpes estudado neste trabalho induz a proliferação de linfócitos B (células do sistema imunitário), e está associado ao desenvolvimento de tumores malignos, denominados linfomas, pelo que o controlo da infecção viral se reveste de extrema importância clínica.
O trabalho foi desenvolvido na Unidade de Patogéneses Viral do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, e contou com a colaboração de investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência, Oeiras e de um investigador da Cornell University, EUA.
Os vírus herpes causam infecções que persistem para toda a vida do hospedeiro. Essa persistência é alcançada devido à capacidade de os vírus herpes induzirem a proliferação das células infectadas. No entanto, apesar da reconhecida associação íntima entre infecção persistente por vírus herpes e o desenvolvimento de linfomas, os mecanismos moleculares subjacentes a essa associação são ainda maioritariamente desconhecidos.
O que os investigadores portugueses agora descobriram é que a proliferação de células infectadas por herpes vírus depende da inibição, pelo vírus, de uma importante via de sinalização da célula hospedeira, a via do factor de transcrição NF-kB. Este factor é responsável por muitos processos normais que ocorrem ao nível das nossas células. Os investigadores identificaram a proteína viral responsável por esse processo inibitório, e verificaram que a perda de função desta proteína, por mutação, torna o vírus incapaz de estabelecer uma infecção persistente no hospedeiro infectado. Esta descoberta identifica pela primeira vez uma importante estratégia utilizada pelos vírus herpes para persistirem no hospedeiro, e poderá contribuir para um melhor conhecimento dos mecanismos que conduzem ao surgimento de linfomas associados à infecção persistente por parte dos vírus herpes.
“Apesar de se conhecerem diversos exemplos de vírus que interferem com a função da NF-kB, o nosso estudo descreve um novo mecanismo viral de manipulação desta importante via de sinalização celular. É também a primeira vez que se identifica esta estratégia específica em vírus” refere Lénia Rodrigues, primeira autora do estudo.
“O que é importante realçar no nosso estudo é que encontrámos uma nova ligação molecular entre o vírus e a proliferação de linfócitos B, condição essencial para o desenvolvimento de linfomas associados a infecções virais”, prossegue Pedro Simas, o investigador que liderou o estudo.
Com base nestes resultados a equipa prossegue o estudo da importância da inibição de NF-kB para a persistência dos vírus herpes e consequente associação a tumores malignos, com o objectivo de contribuir para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas no controlo de infecções persistentes.
Fonte: Cienciapt.net – 31 Março 2009
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